7 de abril de 2010

««Depois do sangue misturado,
depois dos dentes, dos lamentos,
estamos deitados, lado a lado,
e desfolhamos sofrimentos.
Temos trint'anos,
mais trezentos de sofredora exaltação.
É este o cabo dos tormentos?
Ai, não e não!
Ainda não.
Saboreamos o passado
por entre os beijos mais violentos
e mais subtis que temos dado.
E o monumento dos momentos oscila,
desde os fundamentos,
a tão febril consagração.
Mas estacamos, sonolentos.
Agora, não.
Ainda não ...
Tudo se torna esbranquiçado:
eram azuis,
são já cinzentos os horizontes do pecado ...
Há nos teus ombros turbulentos cintilações,
pressentimentos ...
Os nossos corpos descerão para que abismos lamacentos?
Ah! não, e não!
Ainda não!
Eis-vos, de novo,
movimentos que apunhalais a inquietação!
E assim unidos gritaremos que
não e não!

que ainda não! »»

David Mourão Ferreira

1 comentário:

Ana disse...

lindo...desconhecia!